domingo, 27 de março de 2011

A vida é assim...

Postado por Camilla Fernanda às 01:23 2 comentários


"ao ver Mirabell se afastar, Ray Porter sentiu uma perda "Como é possível?", pensou ele, sofrer por uma mulher que ele manteve a distância. Para não sentir a falta dela quando ela fosse embora. Só então percebeu o quanto querer só uma parte dela, e não ela inteira fez os dois sofrerem. E como não podia justificar seus atos, exceto por a vida ser assim."
(Filme: Shopgirl [Garota da Vitrine])

quinta-feira, 24 de março de 2011

Uma exigência e uma impossibilidade

Postado por Camilla Fernanda às 02:41 1 comentários

"Eu sempre tivera certa dificuldade com Camilla, como se ela encerrasse ao mesmo tempo uma exigência e uma impossibilidade.[...]
Chegava em casa e quase não falava, esgueirava-se, imperceptível, a qualquer instante, como se temesse ser desmascarada. Fechada em seu quarto no final do corredor, como se esperasse que lá, em algum momento, alguma coisa aconteceria. Camilla parecia estar constantemente esperando alguma coisa, um aceno, uma carta, um sinal, alguém que chamasse o seu nome, Camilla[...]
Às vezes parecia jovem, quase impúbere, outras uma mulher vivida, precocemente desgastada. Talvez fosse um daqueles casos ambíguos de mulher feia em corpo de mulher bonita, ou gorda em corpo de magra, ou velha em corpo de jovem, talvez Camilla fosse tudo isso, e em momentos específicos, por exemplo, no crepúsculo e na alvorada, fosse possível presenciar essas transformações, em geral misteriosas, imperceptíveis." 
(Carola Saavedra in: Toda terça, Ed. Companhia das Letras)

domingo, 20 de março de 2011

Contrato

Postado por Camilla Fernanda às 21:10 1 comentários


"Combinamos que não era amor. Escapou ali um abraço no meio do escuro. Mas aquilo ali foi sono, não sei o que foi aquilo. Foi a inércia do amor que está no ar mas não necessariamente dentro de nós.A gente foi ao cinema, coisa que namorados fazem. Mas amigos fazem também, não? Somos amigos. Escapou ali um beijo na orelha e uma mão que quis esquentar a outra... Mas a gente combinou que não era amor. 
Mas ainda assim, não somos íntimos. Nada disso. Só estamos aqui, reunidos nesse momento, porque temos duas coisas muito simples em comum: nada melhor pra fazer. Só isso. É o que está no contrato. E eu assino embaixo. Melhor assim. Muito melhor assim. Tô super bem com tudo isso. Nossa, nunca estive melhor. Mas não faz isso. Não me olha assim e diz que vai refazer o contrato. Não faz o mundo inteiro brilhar mais porque você é bobo. Não transforma assim o mundo em um lugar mais fácil e melhor de se viver. Não faz eu ser assim tão absurdamente feliz só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso. Combinamos que não era amor e realmente não é. Mas esse algo que é, é realmente muito libertador. Porque quando você está aqui, ou até mesmo na sua ausência, o resto todo vira uma grande comédia. E aquele cara mais novo, e aquele outro mais velho, e aquele outro que escreve, e aquele outro que faz filme, e aquele outro divertido, e aquele outro da festa, e aquele outro amigo daquele outro. E todos aqueles outros viram formiguinhas de nariz vermelho. E eu tenho vontade de ligar pra todos eles e falar: putz, cara, e você acha mesmo que eu gostei de você? Coitado. Adoro como o mundo fica coitado, fica quase, fica de mentira, quando não é você. Porque esses coitados todos só serviram pra me lembrar[...]o quão sagrado é ser absurdamente feliz mesmo sabendo a dor que vem depois. O quão sagrado é ver pureza em tudo o que você faz, ainda que você faça tudo sendo um grande safado. O quão sagrado é abrir mão de evoluir só porque andar pra trás é poder cruzar com você de novo. Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre. E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho. Medo de destruir mais uma vez esse amor tão santo, tão virgem. E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor. E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo  “bonito carro, boa balada, boa idéia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: NÃO EXISTE NINGUÉM AQUI DENTRO.  Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você acredita."
TATI [DIVA] BERNARDI
 Bom, esse texto já teve muuuuuuuuito a ver comigo algum dia e ás vezes acho que ainda pode ter, maybe.  Apreciem.
 

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