"Eu sempre tivera certa dificuldade com Camilla, como se ela encerrasse ao mesmo tempo uma exigência e uma impossibilidade.[...]
Chegava em casa e quase não falava, esgueirava-se, imperceptível, a qualquer instante, como se temesse ser desmascarada. Fechada em seu quarto no final do corredor, como se esperasse que lá, em algum momento, alguma coisa aconteceria. Camilla parecia estar constantemente esperando alguma coisa, um aceno, uma carta, um sinal, alguém que chamasse o seu nome, Camilla. [...]
Às vezes parecia jovem, quase impúbere, outras uma mulher vivida, precocemente desgastada. Talvez fosse um daqueles casos ambíguos de mulher feia em corpo de mulher bonita, ou gorda em corpo de magra, ou velha em corpo de jovem, talvez Camilla fosse tudo isso, e em momentos específicos, por exemplo, no crepúsculo e na alvorada, fosse possível presenciar essas transformações, em geral misteriosas, imperceptíveis."
(Carola Saavedra in: Toda terça, Ed. Companhia das Letras)