quarta-feira, 21 de março de 2012

No entanto

Postado por Camilla Fernanda às 13:53 1 comentários


É como dar leite num pires raso a um gatinho doente, muito doente, canceroso até. Alimentar esse envolvimento com pequenos encontros e gestos enigmáticos é um sopro de vida, no entanto qualquer esperto consegue ver que não vai dar em nada, que a coisa toda vai morrer até mesmo antes de chegar ao fim. Nossas discrepâncias são o câncer do nosso fatídico encontro por acaso, e não me venha com essa história de completude e laranjas deixadas pela metade, ninguém aqui é adolescente ou fã de Nicholas Sparks. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

O medo, você e eu...

Postado por Camilla Fernanda às 00:23 4 comentários


Tenho evitado escrever sobre você, desde a última página que escrevi por sua causa.  O sentimento implora pra sair do sufoco e respirar lá fora, eu não deixo. Prendo-o, por medo de permitir que as coisas fiquem óbvias demais. Estou escondida, de alguma forma, atrás das minhas publicações. Quase nunca sou eu, finjo muito bem, você sabe, escritores nasceram para distrair, iludindo com uma projeção poética, as verdades ardidas de quem lê. Só que hoje, por algum motivo  ainda desconhecido, resolvi permitir que você saísse do cercado seguro da minha cabeça e se espalhasse por todas as linhas desse texto.

Apesar de você ser o dono das minhas sensações mais intensas, tudo parece estar mais calmo. Suspendi o que me cala pra poder te falar o quanto valorizo todas as suas palavras, os seus movimentos- a engrenagem dos meus. Amo, de forma insana, todos os seus órgãos e os elementos que constituem seu rosto. Os olhos, a forma visceral como me olham; nariz, uma afronta, o condutor do ar que alimenta teus pulmões, [...]boca, objeto de me incinerar, que sonda sobre o meu amor; os ouvidos, teimosos, ouvem minha resposta, relutam em acreditar.

Já devo ter falado o quanto aprecio sua companhia, mesmo percebendo que você foge por alguns instantes. Gosto da forma como você me ocupa: quando não está comigo, estou ocupada tentando adivinhar pra onde você foi. Penso em nós ao arrumar a casa, ao organizar os livros na ordem alfabética que forma o seu nome, ao ensaiar minhas rubricas em guardanapos nas mesas dos bares quando a conversa não me interessa- a não ser que alguém, por acaso, me interrompa perguntando sobre aquele meu caso torto que já dura um tempo.

Você está escondido entre os fios de algodão que tecem minhas camisetas adolescentes de bandas de rock, no emaranhado dos fios dos meus cabelos. No cd da minha banda favorita, reservei a melhor faixa pra meditar sobre suas qualidades, sobre os defeitos sem conserto que me cansam, sobre você inteiro, sem medo do te-quero-agora que vem logo em seguida. Depois você diz que não tenho razões, julga minha falta de nexo em te amar tão demasiadamente, ainda que não convivamos. Como não convivemos? Só você não consegue se ver em todas as coisas que compõem o espaço ao meu redor.

Os carros iguais ao seu (vejo uns dez por dia), as piadas que ninguém mais consegue pensar, a felicidade que explode em mim sempre que te noto bem e feliz, aquela música aleatória que toca na hora certa numa estação do rádio que eu nunca ouço, os dias bonitos, minha disposição para fazer melhor minhas obrigações, a preguiça que tenho dos outros caras engraçados, bonitos, inteligentes, que me querem, que se importam, que não são você: tudo te anuncia. Vem.

Quem me dera conseguir enfiar na sua cabeça que você é o homem mais amável do universo; o quanto sei que você pode ser, até onde sei que pode ir, se quiser. Que pode me levar junto sem me dizer pra onde. E quem me dera conseguir me enfiar de vez no seu coração, porque tá frio pra cacete e eu já cansei de esperar aqui fora.
Mas aí você me dá corda e depois puxa e eu noto o quanto ainda é um menino indefeso que precisa de certezas e de todo cuidado, que tem que parar de pensar demais. Eu cuido, não tem problema.[...]

Eu luto todos os dias contra essa sensação de estar e não estar. De quase você me amar, de quase te deixar ir de vez. E te faço existir até nesses momentos de quase, mesmo que "quase" seja um tempo que só existe na teoria. Eu te pratico em todos os meus tempos, principalmente nos que não querem passar.
Você é o diretor do filme que desiste da própria obra perto do final, que conquista a atenção pra depois abandonar. E eu, personagem coadjuvante, venho tentando inventar o resto. Talvez não fique tão bonito, mas vai ficar real dessa vez, prometo.
O presente te renuncia, ao mesmo tempo em que te vejo em todas as cenas que crio do meu futuro. Desisto de você por hoje pra acordar te amando em dobro amanhã. Porque quando o cansaço me dá um milhão de motivos pra desistir, você me oferece dois bilhões de motivos pra ficar, quando volta dos sumiços. O bom filho (da puta) que à casa torna.

Deve haver alguma razão nessa falta de ordem. Deve haver algum motivo esperando, sem fazer alarde, o que vem depois. É duro acreditar que toda essa espera seja por acaso, porque eu tenho uma anomalia ainda não descoberta pela ciência que carinhosamente chamo de "Preguiça Sentimental" e sempre desisti e esqueci fácil demais de tudo que exige meu esforço contínuo, inclusive de amores mais simples, que desejei mais do que desejo você. 

As forças já não saem apenas de mim, me acalenta a sensação de não estar só. Você não precisa fazer absolutamente nada, fora existir, pra alimentar minhas esperanças. Por isso elas nunca morrem de fome. E a única certeza que tenho agora é a sua dúvida. E a única previsão certa pra amanhã é que você continuará imprevisível. Mas permito que seja, sem tentar supor. Nem que sim nem que não: não digo nada, assisto acontecer. É o jeito. É a vida. Essa bagunça milimetricamente organizada por alguém.

E por medo de permitir que as coisas fiquem óbvias demais, não vou dizer quem (des) organiza a minha vida[...]





Por Vitória de Melo Bispo 

 

Tudo que acho certo Copyright © 2010 Design by Ipietoon Blogger Template Graphic from Enakei